Sobre o ouvir
O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber,
não com a cabeça mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que
nós não vemos. Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica
reconhecer que somos meio cegos... Vemos pouco, vemos torto, vemos errado.
Bernardo Soares diz que aquilo que vemos é aquilo que somos. Assim, para sair do
círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso próprio rosto refletido nas
coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós mesmos. Não somos o umbigo do
mundo. E isso é muito difícil: reconhecer que não somos o umbigo do mundo! Para
se ouvir de verdade, isso é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é
preciso colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões.
Minhas opiniões!
É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão
da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus
pensamentos por outros. E se falo é para fazer com que aquele que me ouve
acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. É norma de boa
educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é
verdadeiro. É apenas um tempo de espera: estou esperando que ele termine de
falar para que eu, então, diga a verdade. A prova disto está no seguinte: se levo a
sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que penso, depois de
terminada a sua fala eu ficaria em silêncio, para ruminar aquilo que ele disse, que
me é estranho. Mas isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e
imediata.
A resposta rápida quer dizer: “Não preciso ouvi-lo. Basta que eu me ouça
a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando o que você disse. Aquilo que você
disse não é o que eu diria, portanto está errado...”.
Recebi de juliana floreano
autor desconhecido
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